......Quem conhece algo de sua obra, logo concordará. Homem dos
mais preciosos que este século acolheu, pensador de tantas esferas do
pensamento e do conhecimento, Borges não se privou de, por mais de uma vez,
refletir sobre teatro....
"(...) Desta reflexão me conduzo a uma frase casual que entrevi ao folhear
uma história da literatura grega, que me interessou por ser ligeiramente
enigmática. Havia aqui a frase: "He brought in a second actor" (Ele trouxe
um segundo ator). Me detive, comprovei que o sujeito dessa misteriosa ação
era Ésquilo e que este, segundo se lê no quarto capítulo da "Poética", de
Aristóteles, "elevou de um a dois o número de atores". É sabido que o drama
nasceu da religião de Dioniso; originariamente, um só ator, o "hipócrita",
elevado pelo coturno, trajado de negro ou púrpura e aumentado o rosto por
uma máscara, compartilhava a cena com os doze indivíduos do coro. O drama
era uma das cerimônias do culto e, como todo o ritual, correu algumas vezes
o risco de ser invariável. Isto pôde ocorrer um dia, quinhentos anos antes
da era cristã. Os atenienses viram com maravilha e talvez com escândalo
(Vitor Hugo conjeturou o último) a não anunciada aparição de um segundo
ator. O que pensaram naquele dia de uma primavera remota, naquele teatro de
cor dourada? O que sentiram exatamente? Por acaso nem estupor, nem
escândalo; por acaso apenas um princípio de assombro. Nas "Tuscalanas"
consta que Ésquilo ingressou na ordem pitagórica, mas nunca saberemos se
pressentiu, sequer de um modo imperfeito, o significado daquela passagem de
um a dois, da unidade a pluralidade e assim ao infinito. Com o segundo ator
entraram o diálogo e as indefinidas possibilidades de reação de uns
personagens sobre outros. Um espectador profético haveria visto que
multidões de aparências futuras o acompanhavam: Hamlet e Fausto e Segismundo
e Macbeth e Peer Gynt e outros que, todavia, nossos olhos não podem
discernir."
olá, tudo bem?
ResponderExcluirparabéns pelo blog.
fiquei querendo saber de onde é o trecho. me ajuda? (: