terça-feira, 15 de dezembro de 2009

TEATRO DO ABSURDO


O Teatro do Absurdo nasceu do Surrealismo, sob forte influência do drama existencial. O Surrealismo, que explora os sentimentos humanos, tecendo críticas à sociedade e difundindo uma idéia subjetiva a respeito do obscuro e daquilo que não se vê e não se sente, foi fundamental para o nascimento desse gênero que buscava, na segunda metade do século XX, representar no palco a crise social que a humanidade vivia, apontando os paradigmas e os valores morais da sociedade como fatores principais da crise. A principal fonte de inspiração dos dramas absurdos era a burguesia ocidental, que, segundo os teóricos do Absurdo, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa de suas fantasias e ceticismo em relação às conseqüências desastrosas que causava ao resto da sociedade.


Como o próprio nome diz, o Teatro do Absurdo propõe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que é considerado normal pela sociedade hipócrita. Essa vertente desvela o real como se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem as neuroses e loucuras de personagens que, genericamente, divulgam o homem como um psicótico, um sofredor, um ser que chega às últimas conseqüências, culminando sempre na revolução, no atrito, na crise e na desgraça total. Extremamente existencialista, o Absurdo critica a falta de criatividade do homem, que condiciona toda a sua vida àquilo que julga ser o mais fácil e menos perigoso, se negando a ousar, utilizando-se de desculpas para justificar uma vida medíocre.



Eugène Ionesco Dramaturgo Francês de Origem Romena

*Um pouco sobre Eugène Ionesco - 26-11-1909, Slatina 28-3-1994, Paris:  Ionesco levou para os palcos sua visão de mundo como algo caótico e incompreensível, criando o "teatro do absurdo", que revolucionou a dramaturgia. O tema central de sua obra é a destruição da capacidade de comunicação cotidiana, causa da impossibilidade de conseguir um "mundo são". No primeiro drama em um ato, A Cantora Careca (1949), sua obra mais representada, assim como em trabalhos posteriores, as discussões surgem num ambiente tranqüilo, mas desencadeiam agressões e catástrofe final. Ionesco representa o absurdo: as figuras evoluem como marionetes e a linguagem esgota-se em jogos de palavras estereotipados, que anulam qualquer possibilidade de comunicação. Tornou-se o mais famoso dos dramaturgos em 1956, quando Jean Anouilh considerou a peça As Cadeiras (1952) uma obra-prima. Em 1970, Ionesco foi admitido na Academia Francesa. Outras obras importantes são O Rinoceronte (1960), La Peste (1967), Journal en miettes (1967) e o romance Le solitaire (1973).

O Teatro do Absurdo foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relação das pessoas e seus atos concomitantes. O objetivo maior desse gênero é promover a reflexão no público, de forma que a maioria dos roteiros absurdos procuram expor o paradoxo, a incoerência, a ignorância de seus personagens em um contexto bastante expressivo, trágico, aprofundado pela discussão psicológica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem. Para Ionesco, Membro da Academia Francesa, autor de um dos primeiros espetáculos absurdos, como A Cantora Careca (1950), “renovar a linguagem, é renovar a concepção, a visão do mundo”. Essa linguagem é traduzida não só nas palavras de cada um dos personagens, e sim em todo o contexto inovador, pois cada elemento no Teatro do Absurdo influencia a mensagem, inclusive os objetos cênicos, a iluminação densa e utópica, além dos figurinos.


Todos esses elementos materiais do espetáculo contribuem para o enriquecimento da mensagem que deve ser clara para não haver dúvidas por parte do público. A ironia constitui-se numa figura de linguagem extremamente difícil de ser praticada no palco, pois, exagerada ou mal formulada, pode ganhar um sentido contrário àquele intencionado pelo diretor. Um outro fator importante é que, no Teatro do Absurdo, muitas vezes o cenário, o figurino e a nuanças nas interpretações se tornam ainda mais importantes do que o próprio texto. O texto em si promove uma nova leitura, cuja concepção tornará possível a construção cênica dentro de um viés preferido pelo diretor.


Samuel Beckett Dramaturgo e escritor Irlandês  

*Um pouco sobre Samuel Beckett - 13/04/1906, Dublin(Irlanda) 22/12/1989, Paris (França): Samuel Beckett foi um dos fundadores do teatro do absurdo e é considerado um dos principais autores do século 20. Sua obra foi traduzida para mais de trinta idiomas. Beckett nasceu numa família burguesa e protestante, e em 1927 graduou-se em literatura no Trinity College de Dublin, onde estudou também italiano e francês. Em 1928, foi lecionar em Paris, onde conheceu James Joyce, de quem se tornou amigo. Durante o ano de 1930 Beckett lecionou na Irlanda. Nessa época escreveu o estudo crítico "Proust", comentando a obra do grande escritor francês. No ano seguinte Samuel Beckett fixou residência em Paris e escreveu a sua primeira novela, "Dream of Fair to Middling Women", que seria publicada somente depois de sua morte. Em 1933, voltou a Dublin, por motivos familiares, mas retornou a Paris em 1938. Nessa época, levou, de um estranho, uma facada no peito e ficou gravemente ferido. No início da Segunda Guerra Mundial, Beckett vinculou-se à Resistência Francesa, juntamente com sua esposa, Suzanne Deschevaux-Dusmenoil. Em 1942 foi obrigado a fugir para Vichy, onde escreveu parte da novela "Watt". A partir de 1945, o seu idioma literário passou a ser o francês. Entre 1951 e 1953 escreveu uma trilogia ("Molloy", "Malone Morre" e "L'Innommable"), cujo tema é a solidão do homem. Com "Esperando Godot", Beckett iniciou, ao mesmo tempo que Ionesco, o teatro do absurdo. Posteriormente ainda escreveu, além de algumas obras narrativas, diversas peças teatrais, como "Fim de Festa", "Ato sem Palavras" e "Os Dias Felizes". Em 1969, Beckett ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Durante a vida escreveu poemas e textos em prosa, como romances, novelas, contos e ensaios, além de textos para o teatro, o cinema, o rádio e a televisão. Samuel Beckett morreu em 1989, cinco meses depois de sua esposa. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse.

Um dos autores de vanguarda do Teatro do Absurdo é Samuel Beckett autor do clássico Esperando Godot, que conta a história de dois personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens a tentar iludir a tristeza e frustração. Esse texto traduz perfeitamente a essência do Absurdo, sendo Beckett uma pessoa que, desde jovem manifestava seu dom à rebeldia, sendo um homem contrário a religiosidade, mesmo sendo de família protestante, além de ser um homem adepto à revolução dos costumes.


O Absurdo, assim como o Dadaísmo, promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas críticas de um público que, apesar de proletário, consumia o idealismo burguês da época. Harold Pinter (1930- ), autor de Velhos Tempos, O Zelador, A Coleção e o autor americano Edward Albee (1928 - ), autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, buscaram a orientação absurda para tecer suas críticas em favor das classes menos favorecidas, constituindo obras anti-literárias, com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett (que ganhou o Prêmio Nobel em 1969), com identidades próprias que lhes deram lugar de destaque na história da arte dramática.


A partir das ideologias de Artaud de quebra com os paradigmas clássicos do teatro ocidental, surgiu o “Teatro Pânico”, uma forma de Teatro do Absurdo calcado no drama e em contextos que mostram a revolta do autor perante o mundo. Apesar de possuir algumas idéias artaudianas, o Teatro Pânico mantém elementos básicos do teatro ocidental, como o diálogo de seus personagens. Esse gênero foi essencial para reafirmar o Teatro do Absurdo como vertente teatral, propondo a forma agressiva de expor seus personagens numa crítica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num limite extremo, sempre numa virtual solidão.


*Um pouco sobre Fernando Arrabal:   Ele não é só o autor espanhol mais encenado no mundo, quanto um dos poucos autores do chamado teatro do absurdo que ainda vivem e produzem. Nascido no Marrocos espanhol 1932, Arrabal é um dos mais prolíficos artistas do seu tempo. Criador versátil e inquieto, inicia nos anos sessenta um movimento que se distingue de outras tendências artísticas como o Surrealismo, o Teatro do Absurdo, o Dadaísmo: O Teatro Pânico. Este movimento cujos postulados merecem uma densa exposição, foi fundado em Paris em parceria com Jodorowsky e Topor, e apresenta características em comum com os antes mencionados, mais tem como traço fundamental uma irrestrita apertura a qualquer possibilidade da criação artística.

A concepção de Teatro Pânico nasceu em fevereiro de 1962, em Paris, e misturava terror com humor. A filosofia pânica diz que a memória é fundamental para o homem, pois esse não passa de um grande fundo de saberes que, com o passar dos anos, compõe um quadro estético, ético e moral. Na visão de um dos principais diretores do Teatro Pânico, o espanhol Fernando Arrabal, autor de A Guerra dos Mil Anos, o Pânico mistura a vida privada com a vida artística, o lirismo e a psicologia, onde o teatro passa a ser encarado como um jogo, ou uma festa. Muitos associaram o Pânico com o Dadaísmo, gênero que contesta a razão em prol do subjetivo. Dessa forma, os espetáculos pânicos propõem, acima de tudo, uma linguagem extremamente transcendental em relação aos temas abordados. Nada disso poderia ser possível sem a estruturação do Teatro do Absurdo que possibilitou no homem uma evolução no que se diz respeito aos seus dogmas.

Um comentário:

  1. O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.
    Albert Camus

    bjs meus

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