segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

TEATRO DO IMPROVISO



A Arte, como um universo de diversidades de expressões, ensina que é possível transformar a existência e transformar-se, envolver-se continuamente, e que é preciso - e possível e necessário - mudar referências a cada momento, ser flexível, e é a arte que sempre propõe a (re)significação.

Pelo teatro “A emoção é movimento, a imaginação dá formas e densidade à experiência de perceber, sentir e pensar, criando imagens internas que se combinam para representar essa experiência.” E vale salientar que não só o teatro, mas todas as formas de arte devem ser reconhecidas como representativas do próprio conceito de criatividade, uma vez que nascem da imaginação e da percepção subjetiva e se incorporam ao universo das diversidades sociocultural, histórica, política e econômica.

Fazer teatro é aguçar a percepção de si e do outro, rompendo com todas as formas ou manifestações de preconceitos e discriminações. No fazer teatral, aprendemos sem nos preocupar em aprender. É uma aprendizagem diferente: “[...] aprender a pensar no fluxo do aprender a sentir.” O teatro promove o  reencontro consigo mesmo, favorecendo a dimensão estética da vida pelo toque, pelo olhar, pelo abraço.

“O aprender teatral vai se sedimentando quando se traz até a consciência algo evocado e vivido com a imaginação.” O ato cênico, sobretudo, o de caráter espontâneo, de improviso, é um exemplar único e original de carinho e cuidado, expressamente visível no universo simbólico das inter-relações pessoais.

O teatro combate o vazio e a solidão, reconhece o outro como ele/ela é, respeitando-o(a) incondicionalmente; propõe a partilha de si, ou seja, expressão livre e espontânea do Eu e do Meu, doação ao outro. E, como conseqüência natural, nasce uma nova consciência: o diferente não é o desigual.

A aprendizagem artística envolve, portanto, um conjunto de diferentes tipos de conhecimentos, que visam à criação de significações, exercitando fundamentalmente a constante possibilidade de transformação do ser humano.

Com as expressões teatrais é possível resgatar o desejo de ver-se, sentir-se, querer-se na representação dramática, aguçando o autoconhecimento. A diversidade e o diferente são naturais, inter-relacionam-se como manifestação ou expressão das impressões subjetivas facilmente percebidas e apresentadas sem bloqueio ou mascaramento.

O Teatro de Improviso, também chamado de Teatro Espontâneo, é uma modalidade de teatro na qual o texto e a representação são criados no decorrer do espetáculo, e, na maioria das vezes, sem ensaio prévio, excluindo-se os textos pré-definidos. Para compor histórias são utilizados temas e a platéia é solicitada a participar da representação e o enredo é encenado na medida em que é construído, de forma envolvente e participativa. Os participantes – atores e atrizes - contracenam entre si e a beleza do espetáculo resulta da criatividade coletiva, cultivada pela imaginação livre e espontânea.

Assim, os principais elementos que integram o teatro de improviso são, entre outros:

1- Sensibilização e a reflexão sobre problemas coletivos, apresentados de forma lúdica, inventiva e participativa;

2- A intervenção crítica e criativa em temas específicos, propondo-se pesquisa e ação refletiva e dialógica;

3- As atividades educativas;

4- A expressão artística natural;

5- Entretenimento.

No Teatro de Improviso, a espontaneidade é uma ferramenta fundante do diálogo e assim se constrói o espaço cênico. A espontaneidade dá origem à criatividade, provocando-a e expandindo seu alcance.

O Teatro de Improviso, se dá pela experiência com o fazer, o ser, o ter, o imaginar, o visualizar. Por si só, sem recorrer a definições, conceitos ou explicações, toda e qualquer modalidade ou técnica teatral trabalha com a diversidade, especificamente: reconhece na diversidade possibilidades para trabalhar o encanto, magia e os mistérios da vida, bem como traçar horizontes de compreensão da realidade, tal como ela é ou se mostra.

Improvisar  é viver pleno e entregue a cada segundo, e isso não é clichê; escutar cada segundo é fundamental, pois o público está ali, ligado em cada item, em cada ideia, respiração, figuração e possíveis entonações… E assim como nós, atores-improvisadores, existem mil ideias na mente o tempo todo, e nossa sensibilidade como grupo, deve entender o que é mais esperado e devolver da ‘melhor’ forma possivel: em sintonia.

  Volker Quandt 
   
Formado em dramaturgia e sociologia em 1973, tem desde então se destacado por meio de numerosas montagens de peças teatrais, tanto na Alemanha quanto nos mais diversos países do mundo, como Suécia, Japão, Chile, Ghana e Brasil. Em 1992 fundou o Teatro Harlekin de Tübingen para promover o teatro de improviso, matéria que hoje em dia também ensina nas universidades de Zurique e Tübingen.


Ele afirma que a verdadeira improvisação acontece no momento em que o ator - improvisador coloca-se em apuros e que o mesmo deve fazê-lo a todo o momento.

Segundo Quandt, é nesse momento em que a magia da improvisação acontece para o espectador, é nesse instante que o mesmo é surpreendido pela sensação de que suas antecipações a propósito do futuro imediato lhe escapam. Porém, para que seja possível provocar essa sensação mágica nos espectadores, para trazer à tona o sincrônico, o inesperado, o repentino, em outros termos, o acontecimento é necessário que os atores-improvisadores estejam a isso habituados. Só é capaz de improvisar acerca de um tema, quem o (des)conhece muito bem, quem nunca o analisou por todos os prismas, pois tudo escapa-lhe a essência.

A origem dos Jogos de Improviso se deu 600 a.C., onde o grego Tespis inventou um diálogo incorporando Dionísio e respondendo a um coro que celebrava a fertilização, tornando assim o primeiro improvisador da história. Já na Comédia Dell’arte - Itália, 1500 - os primeiros atores pagos de todos os tempos também improvisavam, sendo pela dança ou nas pantomimas. Já em meados de 1940, Viola Spolin criou o Theatre Games, onde suas técnicas de improviso influenciaram todos os grupos de teatro ao redor do mundo.

"Assim como no Teatro a vida é um jogo constante de improviso, onde temos que driblar os obstáculos, vencer nossos medos, nossas inseguranças, usar a criatividade, ter jogo de cintura para seguir em frente.
O improviso é o inexperado que a vida coloca a cada momento na nossa frente."
Elis Parra

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