INFLEXÃO

A inflexão nos dá a maneira de expressar pela voz, os sentimentos e intenções que encontramos por meio da análise. As inflexões estão para a arte de dizer como a nota musical está para a música. E de fato, são as inflexões que dão musicalidade ao dizer. Pode-se dizer a mesma frase de várias maneiras, cada uma delas com uma intenção diferente. A inflexão é também a modulação pela qual a palavra exprime idéias não contidas na sua significação. Temos que observar com atenção as inúmeras maneiras de conversar na vida cotidiana.

Usando a memória reteremos o que virmos para aplicarmos no estudo de determinados papéis. Assim conseguiremos três qualidades essenciais: verdade, nitidez e naturalidade.
Existe um método usado por quase todos os mestres da arte de dizer para conseguir a inflexão justa da frase. Vejamos: quando entendemos a intenção do autor, através da análise, mas não achamos a inflexão verdadeira, então, colocaremos no final da frase um complemento para obter a maneira correta de dizer e facilitar a compreensão pelos que ouvem.

Depois de encontrarmos a justa inflexão, deixaremos de lado o complemento, porém, a inflexão permanecerá na frase. Exemplo: Você aqui, esta noite? (Que bom). Eis uma frase que deve ser dita com toda a alegria e o complemento ajuda muito. Este é apenas um exemplo, mas é grande a variedade de situações. Ao estudarmos as inflexões, devemos nos deter primeiro nas principais , depois, para as secundárias. É necessário muito cuidado  para que no final de cada frase não haja uma queda da entoação, tornando monótonas as inflexões.

Mestres no assunto aconselham para manter uma boa inflexão:

1- Manter a entoação suficiente para que a voz seja distintamente ouvida por todo o auditório.
2- Articular nitidamente
3- Ter o sentimento ou a noção exata do que se quer expressar pela inflexão.
4- Cortar a frase apenas onde o sentido o exige imperiosamente.
5- Sustentar com firmeza os finais, isto é, dar grande nitidez e intensidade à música das palavras.

O exemplo conhecidíssimo de Stanislavski, quando na pessoa do professor Torstov, diz um trecho aos alunos sem pronunciar palavras conhecidas, mas deixando-os atentos durante vários minutos sentindo o que ele estava dizendo, vem demonstrar que além do valor das palavras, a dicção conta com o valor das inflexões, que transmitem ao auditório o sentimento do personagem. Eis como ele termina a lição: "Onde está o segredo? Sobre o ouvinte não agem somente os pensamentos dados, as figurações, as imagens associadas das palavras pronunciadas, mas também o colorido do som das palavras, a entoação, os silêncios eloqüentes, que completam a palavra não pronunciada. A inflexão e a pausa possuem também sem a palavra, força de persuasão emotiva."

Assim podemos ver quanta importância tem a dicção e inflexão. O sentimento que domina o personagem, sai, todo ele, através das inflexões. Elas é que formarão toda a musicalidade das frases que é a alma de uma bela dicção. Sendo assim o ator deverá cuidar de maneira completa o estudo das inflexões, dando-lhe a importância que realmente tem. Toda a parte analítica da arte de dizer está na capacidade de compreenção do ator. Não seria possível darmos um texto shakespereano a novatos amadores. O resultado seria  uma cantilena monótona e o pobre Shakespeare seria mais uma vez perturbado na sua sepultura...Talvez um bom diretor pudesse conseguir um resultado apreciável, se os amadores tivessem relativa cultura. Isso não significa que o ator deverá possuir grande soma de conhecimentos. Não. Basta o conhecimento de sua arte e cultura geral média.