segunda-feira, 4 de julho de 2011

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA

......Emergiu nos anos de 1960 como um dos mais revolucionários diretores teatrais do país, numa época marcada pela encenação europeizada do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Desde então, vem construindo um dos mais originais percursos dos palcos brasileiros, além dos mais radicais e polêmicos, em busca de uma linguagem estética que revolucione o comportamento das pessoas. 








Associando seu teatro ao ritual dionisíaco, procura quebrar com a tradicional relação palco/pláteia e integrar o público à ação dramática, para retirá-lo de sua tradicional passividade.


Experimentou assim as teorias stanislaviskianas, percorreu o realismo clássico de Maxim Gorki e Checov e experimentou o "teatro épico" de Bertolt Brecht. Atualmente, aproxima-se cada vez mais das idéias de Antonine Artaud. Formado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, criou, em parceria com Renato Borghi, Amir Haddad, Jorge da Cunha Lima e outros, o Teatro Oficina, em 1958.


O espetáculo de estréia do grupo foi Vento Forte para Papagaio Subir (1958), escrito por ele mesmo. Depois de passar pelo grupo Teatro de Arena, dirigido por Augusto Boal, iniciou-se como diretor com A Vida Impressa em Dólar (1961), de Clifford Odets.


Tomado pelo vigor e engajamento político, tanto quanto pela necessidade em promover rupturas, montou em 1967 seu mais inovador espetáculo: O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. A peça, dedicada ao cineasta de Terra em Transe, Glauber Rocha, expressou as idéias do movimento tropicalista e marcou a história do teatro brasileiro. Misturava sem pudor teatro de revista, ópera, circo ao panfleto modernista e transitava com o elenco do palco para a platéia, confrontando o espectador.


Assumindo seu "teatro de agressão", montou o explosivo Roda Viva (1968), de Chico Buarque de Hollanda; no mesmo dia em que foi decretado o AI-5, Galileu Galilei (1968), de Brecht; em seguida Na Selva das Cidades (1969), também do dramaturgo alemão; e Gracias Señor (1972), sua primeira criação coletiva. Preso e torturado pelo regime militar, partiu para o exílio, onde permaneceu de 1974 a 1978. De volta ao Brasil, reabriu o Oficina com a peça 25 (1979). Seus mais recentes trabalhos foram Ela (1997), de Jean Genet, e Cacilda (1998-1999), uma criação coletiva.




Segue a citação de um trecho de texto do diretor José Celso Martinez Correa, 
líder do teatro Oficina de São Paulo, criador de alguns dos momentos mais 
brilhantes de nosso teatro, como as montagens de "O rei da vela", de Oswald, 
"Vida de Galileu", de Brecht e "Bacantes", de Eurípedes. De resto, penso, Zé 
Celso dispensa apresentações. Pois aí vai a reflexão, no inconfundível  
estilo de seu autor:

"Teatro, como diz tia Oscar Wilde, dá em sociedades nobres. Quer dizer, é 
filho de uma dramaturgia da sociedade que coloca no centro a importância de 
estar vivo e ser mortal, do "é hoje só, amanhã não tem mais". Assim foi no 
século de Péricles que deu tragédia grega, no de Elizabeth, Shakespeare, no 
da vontade de poder descolonizadora tenenista ou varguista (sei lá como 
chamar isto que hoje é maldição do stalinismo liberal) deu a antropofagia, 
Villa-Lobos, Bidu Saião, Oswald. No desenvolventismo, JK deu Nelson, 
Cacilda, bossa, cinema novo, no aqui agora do tempo das multidões jovens dos 
anos 60, jorrou tropicalismo, música, cinema, teatro, política, artes 
plásticas, Plinio Marcos e Cacilda Becker de nova Antígona Chanel no teatro 
da agitação política de 68.
Nossa época de aparência, repito: aparência, pouco nobre e muito pobre, onde 
pra poder qualquer coisa, como sobre viver, por exemplo e não ser pra sempre 
matematicamente "cortado", somos convidados a viver fuçando, lambendo, 
babando, o capital especulativo, empregado da abstração economicista. Temos 
que tagarelar nas TVs e colunas para garantir a miséria social e dar vida a 
"ela", a moeda, a "real" que se recusa a virar matéria-prima concreta, 
investimento produtivo, comida devorável, esterco."




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