segunda-feira, 4 de julho de 2011

STO AGOSTINHO....(354-430)

......o famoso arcebispo de Hipona, reflete, no terceiro livro das  
suas "Confissões" sobre a sua experiência como espectador de tragédias  
durante os dias de sua juventude. A sua reflexão terá um objetivo final:  
arrepender-se de sua antiga paixão pelo teatro, esmagada pela sua paixão da  
maturidade: a fé católica. Na época de Agostinho, essas paixões soavam pouco  
mescláveis:



"Tinha também, ao mesmo tempo, uma paixão violenta pelos espetáculos do 
Teatro, que estavam cheios das imagens das minhas misérias, e das chamas 
amorosas que alimentavam o fogo que me devorava. Mas qual é o motivo que faz 
com que os homens aí acorram com tanto ardor, e que queiram experimentar a 
tristeza olhando coisas funestas e trágicas que, apesar de tudo, não 
quereriam saber? Por que o espectadores querem sentir a dor, e essa dor é o 
seu prazer. Qual o motivo senão uma loucura miserável, pois somos tanto mais 
comovidos por essas aventuras poéticas quanto menos curados daquelas 
paixões, apesar de apelidarem de miséria o mal que sofrem na sua pessoa, e 
misericórdia a compaixão que têm das infelicidades dos outros. Mas que 
compaixão se pode ter para com as coisas fingidas e representadas num 
Teatro, uma vez que aí não se excita o auditor para socorrer os fracos e os 
oprimidos, mas é este convidado apenas a afligir-se com o seu infortúnio? 
Que ele fica tanto mais satisfeito com os atores quanto mais eles o 
comoveram com pena e aflição; e que, se estes sujeitos trágicos, com as suas 
infelicidades verdadeiras ou supostas, são representados com tão pouca graça 
e indústria que não o afligem, sai desgostado e irritado com os atores. Que 
se, pelo contrário, for tocado com a dor, fica atento e chora, 
experimentando, ao mesmo tempo, o prazer e as lágrimas. Mas dado que todos 
os homens naturalmente desejam alegrar-se, como podem gostar dessas lágrimas 
e dessas dores? Não será que, ainda que o homem não sinta prazer pela 
miséria, no entanto ela sinta prazer a ser tocado pela misericórdia: e que, 
dado que não pode experimentar esse movimento da alma sem experimentar a 
dor, aconteça que, por uma conseqüência necessária, ele acarinhe e goste 
dessas dores?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário