suas "Confissões" sobre a sua experiência como espectador de tragédias
durante os dias de sua juventude. A sua reflexão terá um objetivo final:
arrepender-se de sua antiga paixão pelo teatro, esmagada pela sua paixão da
maturidade: a fé católica. Na época de Agostinho, essas paixões soavam pouco
mescláveis:
"Tinha também, ao mesmo tempo, uma paixão violenta pelos espetáculos do
Teatro, que estavam cheios das imagens das minhas misérias, e das chamas
amorosas que alimentavam o fogo que me devorava. Mas qual é o motivo que faz
com que os homens aí acorram com tanto ardor, e que queiram experimentar a
tristeza olhando coisas funestas e trágicas que, apesar de tudo, não
quereriam saber? Por que o espectadores querem sentir a dor, e essa dor é o
seu prazer. Qual o motivo senão uma loucura miserável, pois somos tanto mais
comovidos por essas aventuras poéticas quanto menos curados daquelas
paixões, apesar de apelidarem de miséria o mal que sofrem na sua pessoa, e
misericórdia a compaixão que têm das infelicidades dos outros. Mas que
compaixão se pode ter para com as coisas fingidas e representadas num
Teatro, uma vez que aí não se excita o auditor para socorrer os fracos e os
oprimidos, mas é este convidado apenas a afligir-se com o seu infortúnio?
Que ele fica tanto mais satisfeito com os atores quanto mais eles o
comoveram com pena e aflição; e que, se estes sujeitos trágicos, com as suas
infelicidades verdadeiras ou supostas, são representados com tão pouca graça
e indústria que não o afligem, sai desgostado e irritado com os atores. Que
se, pelo contrário, for tocado com a dor, fica atento e chora,
experimentando, ao mesmo tempo, o prazer e as lágrimas. Mas dado que todos
os homens naturalmente desejam alegrar-se, como podem gostar dessas lágrimas
e dessas dores? Não será que, ainda que o homem não sinta prazer pela
miséria, no entanto ela sinta prazer a ser tocado pela misericórdia: e que,
dado que não pode experimentar esse movimento da alma sem experimentar a
dor, aconteça que, por uma conseqüência necessária, ele acarinhe e goste
dessas dores?"
amorosas que alimentavam o fogo que me devorava. Mas qual é o motivo que faz
com que os homens aí acorram com tanto ardor, e que queiram experimentar a
tristeza olhando coisas funestas e trágicas que, apesar de tudo, não
quereriam saber? Por que o espectadores querem sentir a dor, e essa dor é o
seu prazer. Qual o motivo senão uma loucura miserável, pois somos tanto mais
comovidos por essas aventuras poéticas quanto menos curados daquelas
paixões, apesar de apelidarem de miséria o mal que sofrem na sua pessoa, e
misericórdia a compaixão que têm das infelicidades dos outros. Mas que
compaixão se pode ter para com as coisas fingidas e representadas num
Teatro, uma vez que aí não se excita o auditor para socorrer os fracos e os
oprimidos, mas é este convidado apenas a afligir-se com o seu infortúnio?
Que ele fica tanto mais satisfeito com os atores quanto mais eles o
comoveram com pena e aflição; e que, se estes sujeitos trágicos, com as suas
infelicidades verdadeiras ou supostas, são representados com tão pouca graça
e indústria que não o afligem, sai desgostado e irritado com os atores. Que
se, pelo contrário, for tocado com a dor, fica atento e chora,
experimentando, ao mesmo tempo, o prazer e as lágrimas. Mas dado que todos
os homens naturalmente desejam alegrar-se, como podem gostar dessas lágrimas
e dessas dores? Não será que, ainda que o homem não sinta prazer pela
miséria, no entanto ela sinta prazer a ser tocado pela misericórdia: e que,
dado que não pode experimentar esse movimento da alma sem experimentar a
dor, aconteça que, por uma conseqüência necessária, ele acarinhe e goste
dessas dores?"
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